Acreditem: na Ilha de Paquetá, situada na Baía de Guanabara (RJ) há um cemitério de pássaros! E nele são, realmente, sepultados pássaros de estimação. "Até da cidade aves são trazidas para serem enterradas aqui" - contam os charreteiros Jorge Rosas e Wilson Mello.
A criação desse invulgar cemitério partira de uma Liga Artística que havia na Ilha, entre 1923 e 1949, sob as lideranças do artista plástico Pedro Bruno e de seu amigo Augusto Silva, foi pensado esse recanto de paz. A data de sua inauguração não é precisa; Magda Bruno, filha do artista, crê ter sido na década de 1940.
Pedro Bruno costumava associar os pássaros aos poetas - "Pássaros de minha Ilha, ouço no teu canto a voz dos
poetas do meu Brasil". A partir desse conceito, moradores se reuniram no ano de 2011 para criar um painel poético naquele local turístico, e aproveitaram para render homenagem ao Visconde de Araguaia - Domingos José Gonçalves de Magalhães (Rio, 13/08/1811-Roma, 10/07/1882) -, pelo seu bicentenário de nascimento.
Esse foi o mais elevado título nobiliárquico conferido "com grandeza" ao médico Domingos José Gonçalves de Magalhães, professor de filosofia do Collegio de Pedro II, poeta, filósofo e diplomata. A Magalhães atribui-se a introdução do romantismo no Brasil, a partir de 1836, com a publicação de sua Revista Nictheroy e da obra Suspiros Poéticos e Saudades; é também considerado o "fundador da filosofia brasileira".
Com projeto arquitetônico de Ademir Moraes, ele é formado por 22 placas de granito, com versos referentes a pássaros. Nelas figuram: Pedro Bruno (conceituado artista plástico paquetaense), Januário dos Santos Sabino (um dos redatores da revista literária O Cysne de 1864), Orestes Barbosa, Cléa Mello e Marcílio Freire (membro da Academia de Artes, Ciências e Letras da Ilha de Paquetá); Gonçalves Dias, Machado de Assis, Castro Alves, José Américo, Carlos Drummond, Chico Buarque e versos (sem autor) do cancioneiro popular brasileiro. Ao centro do painel está uma placa alusiva à efeméride do bicentenário de Gonçalves de Magalhães, rodeada por 4 poesias de sua autoria.
Em setembro de 2012, quatro poetas enriqueceram o painel poético: Elisabete Salgado Soares, Professora Da Escola Joaquim Manuel de Macedo; João de Camargo(por iniciativa de Áurea Proença, que assim homenageia o seu patrono na AACLIP); Maria da Graça do Nascimento (presentada pelo esposo José Antônio, com a inclusão de sua poesia) e Nanci Vicente, autora do livro infantil “Bom dia, alegria!”, publicado em 2011 pela Letra Capital.
A esmerada conservação do Cemitério dos Pássaros é devida a dois amigos de Paquetá: Theophilo de Souza (89 anos) e Aldemirio da Encarnação (81 anos); e sua vigilância - também espontânea e não remunerada - ao Sr. Paulo Roberto ("Cobrinha").
Leia também, um texto sobre o cemitério dos pássaros, na coluna "Coisas de Paquetá".
Maria
Castro Alves
Mimosa flor das escravas!
O bando das rolas bravas
Voou com medo de ti! ..
Levas hoje algum segredo ...
Pois te voltaste com medo
Ao grito do bem-te-vi!
Canário
Orestes Barbosa
Oh! Como o destino é vário
Como é feliz teu canário
Preso na tua afeição!
E eu, solto, sem teu afeto,
Na vida apenas vegeto
Com as penas desta ilusão.
Obrigado
Marcílio Freire,
Paquetá
Obrigado
por cantar,
Em música e verso,
meu canto,
meu voo,
minhas plumas
e por um túmulo
neste cemitério
O canto do Sabiá
G. de Magalhães
Urânia não ouves
Um terno reclamo,
Que soa no ramo
Do teu manacá?
Se queres ouvi-lo
O passo apressemos
De perto escutemos
Que é um sabiá.